Realizando entrevistas técnicas
Após ler esse excelente artigo, decidir comentar um pouco sobre o processo de realizar entrevistas técnicas.
Como muito bem comentado no artigo, realização de entrevistas técnicas é algo trabalhoso e caro, trabalhoso, pois parar para analisar o candidato, entender os requerimentos do papel, nivelar perguntas e criar desafios técnicos para entender o candidato e por último criação de laudos e reporte para lideranças, demanda bastante tempo. E caro, pois todo esse trabalho exige certa senioridade técnica e de gestão, fazendo com que pessoas realmente capacitadas para esse papel diminua bastante. Pior, geralmente esse tipo de profissional tende a ter funções importantes nos projetos e times, parar tais profissionais é um custo e um risco.
Então, como se tornar esse profissional tão visado e tirar melhor proveito da filtragem e entrevistas para realmente ser compensador? Bora lá!
Antes de tudo, precisamos ter consciência do cenário em tecnologia, principalmente na visão de desenvolvedores. Esse tipo de mão de obra, cada dia que passa será mais e mais necessário, todas as indústrias só continuam crescendo graças a tecnologia, logo o profissional que consegue prover tais transformações sempre vai ser mais e mais requisitado.
Mas como o próprio Uncle Bob disse em algumas de suas palestras, a curva da demanda de desenvolvedores, sempre será maior que a capacitação do mesmos, fazendo que grandíssima parte dos profissionais sempre serão "entry level" com amadorismo, sem tais confianças em suas próprias habilidades.
Olhando para o cenário brasileiro em especial, programação é algo mágico onde empresas "maneiras", com salários altos e modelos flexíveis, faz com que todos sonham em atuar na área, porém é uma profissão complicada, e como entrevistador técnico temos que ter o sangue-frio de entender isso e antes de TUDO, focar nas capacidades essências de um desenvolvedor e de um profissional, pois mesmo estagiários, podem conseguir derrubar sistemas extremamente críticos, logo é uma profissão de grande responsabilidade.
No desespero do preenchimento de vagas e em conseguir desenvolver seus produtos, empresas hoje buscam pessoas procurando especificamente por tecnologia, como "desenvolvedor java", "desenvolvedor node.js" ou até pior, focada em framework, como "desenvolvedor angular".
Como citado no maravilhoso livro do The Mythical Man-Month, esse perfil de "scripteiro" é importante para projetos grandes, onde temos convenções bem fortes e pessoas muito bem posicionadas, para que esse tipo de profissional de fato só produza, sem pensar. Nesses casos, o perfil da entrevista técnica, pode e deve ser mais simplório, até para contratar em massa. Geralmente para altas demandas desse tipo, solicitar projetos da tecnologia X é o melhor jeito para filtrar quem consegue se virar de forma aceitável antes de parar um entrevistador, mas fique atento, pois mesmo a pessoa podendo consultar, pesquisar, usar IA para gerar o código, o projeto. Isso mostra que a pessoa se vira e faz, mas nunca dispense a chance de encontrar pessoas que realmente mentiu em tudo.
Logo, a melhor e mais efetiva forma de avaliar um candidato, é mediante desafios lógicos ao vivo, sendo a maneira mais rápida, barata e eficiente de avaliar fundamentos de programação, lógica, resolução de problemas e domínio da tecnologia.
Tais exercícios servem para nivelar falsas senioridade do mercado, revelando a sua realidade. Senioridade é algo interno da empresa, o júnior de um lugar pode ser o sênior de outro, saber a régua da sua empresa é essencial para evitar contrações equivocadas de currículos maravilhosos, mas que não sabem fazer nada sozinhos.
Então para concluir, segue o checklist:
1. Descubra a régua técnica da sua empresa, reconheça o que é sênior na sua realidade e quem são de fato essas pessoas;
2. Prepare desafios lógicos - antes de ser desenvolvedor, somos programadores, nosso principal objetivo é resolver problemas da realidade através do computador;
3. Saiba para o que está contratando. Projetos grandes e estáveis, precisam de mão de obra, por isso, simplifique o processo, mas acompanhe de perto tais profissionais e os coloque apenas em contextos com processos muito bem definidos;
4. Sempre desconfie do currículo, entenda a posição da pessoa e a função em tal experiência e SEMPRE aplique desafios cara a cara, um profissional que fica nervoso ao ser testado, não é um profissional preparado, ser testado é parte do nosso dia-dia, como candidato, também precisamos nos preparar para tais situações;
5. Reserve um tempo para criar boas perguntas teóricas sobre as tecnologias e conhecimentos em questão, nunca deixe o candidato esperando você bolar uma pergunta na hora, lembre-se que você também está sendo avaliado, bons profissionais sempre terão outras ofertas em paralelo, além das perguntas, crie raízes nelas para se aprofundar. Quando o candidato percebe que conhece mais que o entrevistador, podemos criar uma má imagem da empresa.
A identificação do tipo de profissional é extremamente importante, talentos existem e seguem o princípio de Pareto, 20% apenas, muito bem distribuídos e extremamente concorridos, eles sempre vão buscar desafios e lugares que possam crescer. A entrevista técnica é o momento perfeito para provar que este é o lugar para eles, pois bons candidatos vão avaliar seu entrevistador também. Essa é a porta de entrada de uma empresa, é daqui que sai a primeira impressão da qualidade técnica.
Abraços!